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#CrecheMelhor: Tem idade certa para frequentar a creche?

Esta pergunta é recorrente entre pais de crianças pequenas. Afinal, é uma janela de oportunidade ao desenvolvimento infantil. Vamos refletir mais a respeito.

Este é um tema ainda complexo na realidade brasileira. Enquanto já se sabe sobre a importância da creche na vida de crianças e de suas famílias, temos consciência de que ainda não conseguimos vagas suficientes para atender os pequenos de zero a três anos que precisam frequentar esse espaço educativo, muito menos a qualidade necessária para que todos sejam promotores de uma primeira infância mais saudável – e não ao contrário, tornando-se prejudiciais a ela.

No entanto, para se responder à questão proposta, precisamos olhar os diferentes contextos da criança:

  • Se ela vive em um ambiente de vulnerabilidade (violência social, violência doméstica, violência sexual, pais ou adultos responsáveis dependentes químicos etc.), ir para a creche, desde bebê, pode fazer diferença positiva.
  • Se a criança vive em situação de vulnerabilidade (como pobreza e violência na comunidade), mas tem uma família que a acolhe, pais ou adultos responsáveis que estabelecem bons vínculos e a estimula para que se desenvolva, ficar em casa, segundo alguns especialistas, é uma opção saudável. Nesses casos, eles recomendam que a criança vá para a creche após 1 ano, 1 ano e meio.
  • Embora seja obrigação do Estado garantir vagas em creches também para bebês, muitos especialistas defendem que, salvo necessidades extremas da família ou as tais situações críticas, é desaconselhável colocar crianças antes de um ano nas creches. Isto porque, atualmente, esses espaços, em grande parte, não apresentam infraestrutura e pessoal devidamente preparado para acolher bebês e atendê-los com a atenção necessária.
  • Crianças a partir dos 2 anos são as que, para boa parte dos especialistas, aproveitam melhor as oportunidades dadas pelas creches. Linguagem, trocas, convivência, criatividade… Aspectos que são trabalhados e fortalecidos mais explicitamente a partir dessa fase do desenvolvimento infantil. Crianças que não frequentam creches, se menos estimuladas em casa, podem perder ótimas oportunidades de aprendizagem nesse período.
  • Ficar em casa com adultos afetivos, irmãos que ajudam a estabelecer relações, num ambiente sadio, é muito bom para a criança. Se ela não tem essa vivência, a creche pode ajudá-la a construir o que em casa ela não vivencia e que é essencial para seu desenvolvimento.

No Brasil, de acordo com a pesquisa “Primeiríssima Infância Creche – Necessidades e interesses de famílias e crianças”, os bebês (até seis meses) formam um grupo pequeno que frequenta creches.

Esse dado pode ser reflexo da licença-maternidade de mães que trabalham com carteira assinada e que acabam emendando as férias para ampliar o tempo de permanência com o filho – e, provavelmente, da amamentação (fator importante para a criança, não só sob o aspecto nutricional como, especialmente, para o fortalecimento do vínculo). As famílias que moram na área rural, com renda de até 5 salários mínimos (SM), são as que mais usam o serviço para seus bebês de até 6 meses. Um possível indicativo de que essas mães trabalham sem carteira assinada e não têm como ficar com seus filhos.

Já crianças entre 1 e 2 anos e meio são a maioria que frequenta a creche, segundo a pesquisa. Os pais ou responsáveis que vivem nas capitais e entorno, com renda até 5 SM, usufruem mais do benefício nessa fase da infância.

A partir dos três anos, famílias que vivem no interior, mas em centros urbanos, e que possuem renda de até 5 SM, formam o grupo maior de beneficiários das creches públicas ou privadas.

Diante desse cenário, o gestor público tem de estar atento às necessidades das famílias de seu município, assim como realizar campanhas de conscientização sobre a importância da creche para a primeira infância. Obviamente, o gestor municipal precisa aplicar recursos na rede para dar condições a esses espaços educativos a fim de que acolham e favoreçam o bom desenvolvimento infantil, especialmente de crianças em situações de vulnerabilidade social.

Ao mesmo tempo, é importante que analise as realidades dos núcleos familiares para entender que ações tendem a favorecer a criação de vínculos e estímulos adequados para que crianças sem vagas nas creches – ou que os pais prefiram que permaneçam em casa – possam também ter oportunidades qualificadas de desenvolvimento.

Outra preocupação deve ser a de ampliar a interação entre escola e famílias, inclusive envolvendo outros adultos de referência, como avôs, tios, para participar de decisões e melhorias nas creches, contribuindo ativamente ao desenvolvimento da criança.

Não perca o próximo artigo da série #CrecheMelhor, tema que vamos focar no blog.

Para conhecer os dados da pesquisa “Primeiríssima Infância Creche – Necessidades e interesses de famílias e crianças”, lançada pela Fundação Maria Cecilia e Ibope em novembro de 2017, é só clicar aqui.

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